Autora: Anienne Nascimento
Título Original: Mocinha
Páginas: 278
Ano: 2018
Gênero: Romance
Editora: Chiado Books
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Após catorze anos vivendo na Europa, Mocinha retorna ao Brasil para desenterrar seu passado.Professora universitária, num casamento falido.Virou as costas para tudo o que viveu até os dezoito anos, mas carregou os fantasmas que a amedrontam até o momento e aos trinta e dois, finalmente decide encará-los. Talvez essa seja a chave que abrirá um novo futuro.O tempo chegou. A vida oferece a oportunidade para fechar um ciclo e abrir um novo, que traz todas as possibilidades. As páginas ainda estão em branco e ela pode escrever um novo capítulo.A maturidade trouxe a capacidade para compreender as coisas, o que a ajuda a transformar uma época difícil e cheia de ansiedades, numa passagem mais serena, através da aceitação dos próprios limites e do afastamento de sentimentos turbulentos e difíceis, para um estado mais calmo. Mocinha não se sente confiante, mas a vida lhe exige uma posição e, querendo ou não, ela está de volta. O que é possível fazer quando se está numa encruzilhada?A sorte está lançada.
Emília Pacheco de Albuquerque saiu da cidade de Quipapá aos dezoito anos de idade. Em uma pequena e pacata cidade de Pernambuco foi onde a Mocinha viveu seus melhores dias. Com uma família grande, cheia de irmãos, ela adorava brincar com eles e sempre era chamada de homem por seu jeito moleque de ser. Isto nunca a incomodou, já que ela realmente gostava de se divertir o tempo todo.
Agora Emília está de volta a sua cidade para visitar sua família e rever todos, inclusive seu passado. Precisa pensar um pouco na vida e em tudo o que está acontecendo em seu casamento. Desde que foi para a Europa ainda muito nova, precisou enfrentar muitas coisas e tentar esquecer pessoas que jamais saíram de seu coração.
"Saí daqui em janeiro de 1960. Estava com dezoito anos, com duas malas nas mãos, alguns sonhos na cabeça e perdas enormes na alma. Passei por muitos lugares. Aprendi outros idiomas. Conheci outras culturas. Nenhum lugar se compara ao meu." P. 12
Mocinha, como se auto denomina, guarda uma pessoa em seu coração. Quando pré-adolescente foi enviada para uma cidade em Alagoas, perto de sua cidade, para estudar. Era um internato para meninas, onde as freiras tinham regras rígidas e as meninas não podiam aproveitar quase nada. Mocinha não queria este destino para si, viver longe das suas brincadeiras, de seus amigos e irmãos e ainda mais vivendo com castigos diversos naquele lugar horrível.
O que a salvou foi conhecer Abelardo, o professor de literatura. Um homem já com seus trinta anos passados, viúvo e que agora tinha saído do Rio Grande do Sul e decidido ir lecionar naquele lugar. Mocinha via nele um salvador já que ele emprestava livros diversos para que ela vivesse em outros mundos de fantasia. O que era amizade, aos poucos se tornou muito mais do que isto.
E em um mundo onde preconceitos são gerados, o que gerou-se foi um amor forte que precisou resistir a muitas coisas. Mas o que será que Emília teria vivido para precisar ir embora tão jovem e dizer adeus a tudo?
"Minha vida tinha mudado e meus interesses eram outros. Há muito não era mais a menina arteira, que se dizia homem, para quem a vida se resumia à Fazenda do Ipê Branco." P. 188
Para quem ainda não ouviu ou leu algo sobre a autora, Anienne mora desde bem pequena em Maceió, Alagoas. E já começo falando isto por um fato que vai chamar muita atenção nesta obra e que foi algo que me cativou tanto: a qualidade e conteúdo linguístico local. Sim, geralmente leio livros onde temos o português normal, mas em Mocinha a grandiosidade de frases com expressões nordestinas locais e também as usadas pelo personagem de Abelardo, que é gaúcho, são enormes.
Não obstante a esta característica linda, também há a descrição do cenário. Eu ficava me perguntando enquanto lia como deve ser lindo toda aquela região, cheia de cachoeiras, lugares para descansar. A autora não poupa detalhes nem na descrição da culinária, enriquecendo a obra em conteúdo regional.
E então a história vai mostrar sobre a vida de Emília, uma mulher que viveu em uma cidade de Pernambuco, que cresceu e estudou em um internato e lá conheceu um grande amor. Não se passa em nossa época atual, mas nos anos cinquenta o que pode começar a perceber que já naquela época tinha um grande preconceito com milhares de coisas.
A história é envolvente e caprichosa. Ao mesmo tempo em que vamos conhecendo mais sobre o romance de Emília com Abelardo, também temos uma visão maior das coisas que acontecem em um internato, dos sonhos de cada menina e do que elas sonham para si.
"Sei que se eu quisesse, poderia voltar. Não preciso fazer isto, mas quero fazer. Não sou covarde. Vou enfrentar o que vier pela frente." P. 225
Na obra vamos ter os dois tempos: passado e presente. Mocinha vai contar como está atualmente e como foi que tudo aconteceu. No fim fiquei com o coração doído. Não posso dizer que saberia como lidar com a situação pela qual ela passou, principalmente em uma época onde as pessoas eram mais duras do que hoje, mas gostei de como tudo terminou.
Além de ser uma obra gratificante em conhecimento é um romance bonito pela lição que deixa e pelo fato de que não importa como o amor de certa forma sempre vence!